Prólogo



Prólogo



O Fio da Meada não tem a pretensão de ser uma tradução e/ou interpretação dos textos relativos ao I Ching, o Livro das Mutações. Se assim fosse, esse não seria seu título...

O Fio da Meada tem, sim, a pretensão de trazer à tona a estrutura fundamental de formação do I Ching, desde os tempos imemoriais, cerca de cinco a seis mil anos atrás, quando os sábios chineses começaram a estudar e descobrir e fundamentar a relação Céu e Terra ...

Para representar esse conceito subjetivo de Céu e Terra, foram designadas a linha contínua para a constância do Céu e a linha vazada para a duração da Terra. Nesse momento, surge a consciência do Homem como aquele que tem, através da mente e do desenvolvimento da consciência, a capacidade de desbravar, para compreender e estruturar os segredos do céu e da terra. Sendo assim, são criadas para imajar o Céu como a Terra, três linhas, cada uma representativa da Terra, do Homem e do Céu, O Trigrama Primordial: Ch’ien, O Céu, e K’un, A Terra.

Inicialmente, os sábios da antigüidade apreenderam as verdades intrínsecas existentes no Sol e na Lua, A Luz e a Não-Luz, O Doador de Vida e o Refletor desta Vida, O Pai e a Mãe.... e em escala mais aprofundada, a relação entre o Sol como pertencente ao Céu e a Lua como pertencente à Terra....

Para representar, ou imajar, o Sol e a Lua, O Céu e a Terra doaram, como num casamento, suas linhas interiores, as linhas representativas do Homem, e assim criaram os Trigramas Primordiais de Li, O Fogo, e K’an, A Água. Nesse momento, vem à consciência do Homem o seu Espírito, que possui a constância do Céu, e sua Alma, que possui a duração da Terra, a encarnação.

Aliado a esses conceitos primordiais sobre Céu e Terra, Pai e Mãe, Sol e Lua, Espírito e Alma, os sábios da antigüidade perceberam o aparente trajeto do Sol durante o ciclo chamado ano e o transpuseram em um mapa, denominado de Rio Amarelo.

Inicialmente, o Rio Amarelo era um mapa orientador das estações principais, o inverno e o verão, e posteriormente, das quatro estações do ano, com o acréscimo do outono e da primavera. O Rio Amarelo, dessa maneira, designava os solstícios e os equinócios e formava aquilo que hoje chamamos de Céu /Anterior ou Mundo da Não-Manifestação, ou seja, uma formulação que ainda indicava a recém saída do caos para a ordem, a recém saída do conhecimento do inconsciente da humanidade até então para o consciente, tornando-o conhecimento objetivo e realizado.

Posteriormente, o casamento do Céu e da Terra, proporcionou a continuidade da inter-relação das linhas contínuas e vazadas: Chen, O Trovão, é a Luz que retorna ao Vazio. Sun, O Vento, A Madeira, é o Vazio que adentra a Luz. Ken, A Montanha, O Mestre, é a Luz que deixa lugar para o Vazio. Tui, O Lago, é o Vazio que reflete a Luz.

É formado então o mapa dos oito pontos cardeais, o Rio Amarelo do Céu Posterior ou Mundo da Manifestação. E por tudo estar completo e realizado, Céu e Terra se retiram, deixando o mundo manifestado ser objetivado pelo Sol e pela Lua e todos os seres do universo.....

Ao longo dos tempos, os sábios da antigüidade foram formulando o I Ching, O Livro das Mutações.... Dos oito Trigramas Primordiais surgiram os 64 Hexagramas que compõem todas as possíveis inter-relações entre a natureza do Céu e da Terra. Essas imagens foram sendo nomeadas e faladas sobre, primeiramente através do ensinamento verbal e através dos sinais das linhas contínuas e vazadas, linhas Yang e Yin, até – ao longo dos tempos – serem gravadas em ideogramas e linguagem escrita e imortalizada.

Vieram então os sábios que compuseram os textos para cada imagem ou Hexagrama e mais tarde, vieram os sábios que compuseram os textos das linhas para cada Hexagrama....

Inicialmente, a composição do I Ching, O Livro das Mutações, foi realizada como o Caminho do Céu, ou seja, A Terra, K’un, encontrando consigo mesma e com todos os seus Filhos até finalmente encontrar-se com o Céu, Ch’ien. O mesmo acontecendo com Ken, A Montanha, com K’an, A Água, com Sun, o Vento, com Chen, O Trovão, com Li, O Fogo, com Tui, O Lago, e finalmente com Ch’ien, O Céu, realizando seu encontro com K’un, A Terra, com todos seus Filhos e consigo mesmo – trazendo, dessa maneira, o Mundo da Não-Manifestação para o Mundo da Manifestação.

O I Ching do Mundo da Manifestação é bem mais recente no tempo e tem seu início com Ch’ien, O Céu, seguido de K’un, A Terra, e na continuidade, dando vazão a todos os Hexagramas aparecendo com seus pares em inversão de imagens das linhas contínuas e vazadas até ser finalizado pelos Trigramas do Fogo, Li, e da Água, K’an, Sol e Lua, Espírito e Alma...

O Fio da Meada – O I Ching do Caminho do Céu – se propõe a contar simplesmente sobre aquilo que os sábios chineses da antigüidade faziam: a observação da natureza e conseqüente compreensão da mesma e registro dessa compreensão. Dessa forma, as raízes do I Ching, O Livro das Mutações, remontam à astronomia, à mecânica celeste, à observação da natureza do céu e da terra.

Finalmente, O Fio da Meada se propõe, fundamentalmente, a ajudar o paciente e perseverante e estudioso leitor, a compreender o I Ching, O Livro das Mutações, por si mesmo, a ter em sua mente um instrumento de compreensão e manejo da Família do Céu e da Terra, dos Hexagramas e seus textos, das Linhas e seus textos e fundamentalmente, como tudo isso foi estruturado e organizado.

Para tanto, O Fio da Meada é baseado em dois livros deveras importantes:

1.     Para uma compreensão sobre as bases mais profundas do I Ching do Caminho do Céu na Seqüência dos Hexagramas do Céu Anterior ou Mundo da Não-Manifestação:

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil
Hoje em dia sendo publicado pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

2.     Para uma compreensão sobre as bases mais profundas do I Ching na Seqüência dos Hexagramas do Céu Posterior ou Mundo da Manifestação e, fundamentalmente, para basear e estruturar toda a Segunda Parte de o Fio da Meada onde eu descrevo toda a Família do Céu e da Terra e sua formação em 64 Hexagramas, com considerações, textos e linhas e entrelinhas:

O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil

É também importante mencionar o fato de que O Fio da Meada foi realizado tanto para o leitor que já conhece e estuda o I Ching como para o leitor que ainda não conhece o I Ching, o Livro das Mutações..... Da mesma forma, tanto para aquele que procura o I Ching apenas como oráculo como para aquele que procura o I Ching como fonte de sabedoria e conhecimento da natureza do Céu e da Terra.

O I Ching, O Livro das Mutações, é a conscientização de nossa sabedoria inconsciente... Nosso inconsciente é um reservatório de sabedoria universal. Essa sabedoria foi revelada e estruturada através dos tempos pelos sábios e mestres. Dessa forma, deve ser sempre com muito respeito e elevação espiritual que devemos nos aproximar e nos fusionar com nosso mestre interior, O I Ching.
           
Como diz Wu Jyh Cherng, em seu livro abaixo mencionado, o I Ching é considerado as raízes do pensamento taoísta na China. O tronco dessa frondosa árvore é estruturado pelo Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, que contém 81 Capítulos ou poemas de Lao Tsé, o imortal mestre iluminado do Tao.
           
Ao longo de todo O Fio da Meada, o leitor encontrará fragmentos da sabedoria de Lao Tsé (extraídos do livro Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, Editora Ursa Maior (hoje publicado pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil), com tradução do chinês para o português de Wu Jyh Cherng).

Dessa forma, raízes e tronco do Tao são abordados para que nós possamos nos tornar um galho dessa árvore espiritual, nos fusionando com a sabedoria do universo e buscando a realização de nosso Caminho e de nossa Virtude.
                                                                      A Autora
Janine Milward de Azevedo